sábado, 27 de agosto de 2011

Capítulo 3- A IGREJA E A PRÉ EXISTÊNCIA DA ALMA

Contrariando a essência das doutrinas orientais, a maioria das religiões ocidentais que se intitulam cristãs, tenham elas suas raízes no cristianismo moldado por Constantino ou nascidas das discordâncias que pautaram a sua estrada, negam a  pré-existência da alma porque um versículo do novo testamento diz:
  • Epístola aos Hebreus 9:27.”Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo final”
Entretanto, o que é dito nos seguintes versículos contraria frontalmente a Epistola aos Hebreus, porque segundo Mateus, Jesus disse aos apóstolos que João Batista era a reencarnação do profeta Elias:
  • Mateus 11:13-15. Porque os profetas e a lei tiveram a palavra até João. E, se quereis compreender, é ele o Elias que devia voltar. Quem tem ouvido que me ouça.
  • Mateus 17:12-13. Mas eu vos digo que Elias já veio, mas não o conheceram; antes, fizeram com ele quanto quiseram. Do mesmo modo farão sofrer o Filho do homem. Os discípulos compreenderam, então, que ele lhes falava de João Batista.
Ao longo dos primeiros séculos da nossa era, entretanto, devido à simbiose entre as religiões pagãs e o cristianismo nascente, a reencarnação era um dos componentes da teologia deste ultimo, porque os pais da igreja cristã - entre eles Orígenes de Alexandria, através dos seus textos afirmavam que a reencarnação fazia parte do pensamento cristão.
Foi no segundo século da era cristã que Orígenes de Alexandria, teólogo e exegeta - aquele que se dedica à interpretação, explicação e comentários gramaticais, históricos e jurídicos da Bíblia, escreveu na sua obra “sui principi”, obra esta que na oportunidade fazia parte dos livros canônicos, que algumas pessoas, devido a sua inclinação ao mal e a associação a paixões irracionais, depois de morrerem, vencido o período de permanência na forma humana, renasciam como animais até pagarem seus débitos.
Orígenes foi considerado um dos mais ilustres estudiosos da Bíblia, da Igreja, e das suas origens. Participou na elaboração do novo testamento, foi um prolífico autor de epistolas, tratados de teologia dogmática e pratica, alem de apologias e obras exegéticas famosas como a “Esapla”, uma das primeiras edições Bíblicas comparadas. As suas afirmações, relativas à preexistência da alma, e todas as teorias que se desenvolveram a partir daquele pensamento, foram matéria de importantes controvérsias na igreja da idade média. Porem, como as leis da igreja continuavam sendo alteradas pelos imperadores - antes que esta estratégia passasse à esfera papal – porque utilizavam a religião para se fortalecerem politicamente, mais uma vez no ano 553 isso se repetiu. Naquele ano, o Imperador Giustiniano I, utilizando o quinto Concílio Ecumênico, o segundo de Constantinopla - nome dado por Constantino I à antiga Bizâncio quando passou a ser a sede do império do ocidente, submetendo-se mais uma vez aos desejos capciosos de sua esposa, a imperatriz Teodora, ordenou a prisão do Papa Silvério  que havia sido eleito em Roma um ano antes, e nomeou para substituí-lo Virgilio, o núncio apostólico daquela cidade depois que este prometera ajudar a imperatriz a destruir a crença da reencarnação.
A respeito de Teodora sabe-se que era filha de um tratador de ursos do hipódromo e que tivera uma juventude desregrada, escandalizando a cidade com suas aventuras de atriz e dançarina. Não se sabe exatamente como Justiniano a conheceu. Seu matrimônio com a antiga bailarina de circo e prostituta teve grande importância uma vez que ela iria influenciar decisivamente em algumas questões políticas e religiosas. Ela, que não tolerava concorrência quando decidia seduzir um homem, sem nenhum escrúpulo mandava assassinar as mulheres que lhe atravessavam o caminho. Quando soube que as almas reencarnavam, ficou preocupada com a possibilidade da reencarnação daquelas que havia mandado executar, entendendo que poderiam voltar para se vingar. O que fazer, então? Acreditando que como imperadora podia extirpar o “mal” em sua raiz, decidiu que a reencarnação devia ser eliminada da teologia cristã.
Virgilio, o novo Pontífice, para cumprir a sua parte no acordo, não participou do quinto concilio, e sem a sua presença os 160 religiosos presentes não tiveram como defender a continuidade da tese da preexistência da alma diante da pressão do imperador para eliminá-la. Foi assim que o imperador Justiniano I se viu livre para proclamar livremente seu anátema contra Orígenes de Alexandria. Não só o excomungou, como afirmou que se alguém viesse a afiançar novamente que a alma transmigra de um corpo para o outro, seria maldito.
A partir do “consenso” daquele Concilio, falar em reencarnação passou a ser sinônimo de heresia e este posicionamento pós-fim a qualquer outra discussão séria a respeito da transmigração da alma. Tornando-se um dogma, uma decisão tomada, tida como certa, e conseqüentemente indiscutível”, passou a ser um assunto proibido não só no âmbito eclesiástico, mas também por todos os católicos.
Esse dogma, ao longo dos anos, passou a ser absorvido por todas as religiões que, cada uma ao seu modo, pregam o cristianismo.

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