“O dialogo com os mortos não deve ser interrompido, pois, na realidade, a vida não está limitada pelos horizontes do mundo”. Pregação do Papa João Paulo II na Basílica de São Pedro em novembro de 1983.
O papa João Paulo II ao fazer esta declaração, com certeza, deixou muitos cristãos boquiabertos, porque de certa forma contrariou frontalmente o que a sua igreja até então afirmava: o sono eternal até o dia do juízo final.
Entretanto, por não ser possível atribuir a estas palavras meio significado, porque jamais o papa entraria nesta seara irresponsavelmente, mister se faz entender que na igreja católica apostólica romana, sob o papado de João Paulo II, estavam em curso profundas mudanças. Mesmo porque João Paulo II havia declarado - quando tornou publico o terceiro segredo de Fátima, que visões como a que tiveram as três crianças portuguesas são freqüentes, mas como nem sempre são confiáveis, deve-se estar preparados para escolher entre elas só as confiáveis porque há inúmeras más.
Para uma analise um pouco mais profunda a respeito destas considerações recorreremos ao livro “Il Pensiero Debole” (o pensamento fraco) que o professor de filosofia Gianni Vàttimo escreveu em 1983. Nele, Vàttimo discorre a respeito da fraqueza do pensamento porque, mesmo se não é mais possível falar do “ser” ou da “substancia”, bem como dos “fundamentos” das “certezas” ou das “verdades”, persiste possível pensar, refletir e filosofar.
Este tipo de pensamento tem demonstrado que aos poucos influencia também a teologia que é o estudo da fé em Deus, permitindo, assim, entrever outros caminhos de reflexão entre os cultivados pela doutrina metafísica, em outras palavras, os que haviam sido propostos por São Thomaz de Aquino, um plagio dos ajuizamentos do grego Aristóteles.
Estes novos caminhos que estão se delineando, aparentemente, não somente são mais fieis à bíblia, mas também mais humanos. Trata-se, porem, de caminhos ainda em fase de exploração. Nestes percursos, entretanto, tem uma importância capital o estudo da língua, o estudo da psicologia e o confronto histórico com as culturas dos vários povos do mundo.
Atualmente é possível ter uma melhor compreensão a respeito do motivo pelo qual muitas pessoas - mesmo de perspectivas diversas, se sentem freqüentemente desorientadas porque não conseguem mais ter uma noção exata para diferenciar os caminhos comuns dos que a luz dos conhecimentos de hoje é permissível refletir.
Destarte pode parecer surpreendente o que o Código de Direito Canônico (o compendio atualizado das leis da igreja católica) publicado em Roma no dia 25 de janeiro de 1983, no parágrafo 3 da lei 252, que diz respeito à instrução a ser dada aos seminaristas, explicite: ”alumni mysteria salutis, S. Thoma praesertim magistro, intimius penetrare addiscant” (os alunos aprendam a penetrar mais profundamente os mistérios da salvação, nomeando seu mestre sobretudo São Thomaz de Aquino).
A posição da igreja institucional, todavia, pode ser compreensível. Ela procura se manter, pelo menos por enquanto, ancorada nas tradições que julga mais claras e seguras mesmo se decrépitas, enquanto os novos caminhos não se demonstrarem suficientemente claros e seguros para poderem ser seguidos com a mesma tranqüilidade.
Mesmo o pensamento de são Thomé de Aquino, no seu tempo, encontrou oposição por parte da igreja, até que se demonstrou claro e confiável.
Os últimos desenvolvimentos da filosofia, exatamente porque são os últimos, ainda não foram difundidos porque seu aprofundamento, e conseqüentes esclarecimentos, não foram suficientes para torná-los aceitáveis com serenidade também por parte da igreja.
É necessário não esquecer que a igreja católica não é só o reflexo do que está escrito nos documentos, mas é um gigantesco organismo articulado e complexo, onde, se por um lado existe a pesquisa e a experimentação, do outro existem os contrastes e conflitos que são gerados pelas idéias e pelas escolhas.
Fazendo-se uma rápida síntese pode-se afirmar que nesta igreja existem como mínimo duas correntes, a dos conservadores e tradicionalistas, temerosos que uma abertura para a filosofia não metafísica provoque um desorientação destrutiva, e dos progressistas que enxergam com mais otimismo a possibilidade de se iniciarem novos caminhos. Mas nem sempre estes últimos conseguem esclarecer, com um discurso simples, onde pretendem chegar. Esta é a igreja.
Mas o que será que animou o papa a dizer que o dialogo com os mortos não deve ser interrompido, pois, na realidade, a vida não está limitada pelos horizontes do mundo? Será que estava se reportando à pré-existência da alma, defendida pelo exegeta Orígenes de Alexandria até ser excomungado, em 533 d.C., pelo imperador Justiniano I? Ou aos livros sagrados do hinduísmo, os Vedas, que séculos antes da vinda de Cristo já afirmavam que a morte é a separação do corpo sutil do corpo físico quando este desce ao tumulo, e que após abandonar o corpo de carne permanece no mesmo cenário em que vivem aqueles que ama para só tempos depois iniciar uma longa jornada no plano espiritual?
Poderia também se reportar a Platão porque este grego comparava à alma a uma “biga” puxada por dois cavalos alados, três elementos em permanente conflito. Na existência anterior ao último nascimento, dizia este filosofo, as almas dos homens estavam com as dos deuses no céu, portanto, com a probabilidade de progredir para níveis superiores, uma realidade além do mundo físico que segundo ele subdividia-se em dois níveis reais: o nosso mundo e o das idéias?
Ou ainda aos egípcios que consideravam que a natureza humana era composta de três elementos: corpo, vida e espírito. Ahk era o corpo - caracterizado como princípio mortal, kha o espírito ou alma - que era caracterizada como energia vital, a força que mantém a vida, e Kha a essência que continuava viva depois da morte do corpo?
Poderia se referir a Kardec? Não, porque ele não inventou o espiritismo, só o codificou. A alma só abrolhou neste planeta depois que as forças do invisível, sob a orientação do Cristo, estabeleceram a linhagem definitiva para todas as espécies. Foi no “Homo Neanderthal” que o espírito dos que foram exilados de Capela reencarnaram no orbe Terrestre.
Sim, muitos milênios antes do cristianismo nascer, os espíritos, entre uma encarnação e outras, já se manifestavam entre todos os povos da terra: da Índia ao Nepal, dos Egípcios aos Babilônios, dos Celtas aos Normandos e dos Gregos aos Romanos através de seus sacerdotes, enquanto que em todas as regiões habitadas por autóctones aconteciam às mesmas manifestações através dos pajés ou dos xamãs.
Entretanto, o que o papa João Paulo II tencionava dizer foi por ele levado para o “alem do horizonte do mundo”, e pelo andar da carruagem, mesmo se dentro do recinto do vaticano alguém sabe ao que ele se referia, com certeza não vai ser esclarecido sob o papado de Bento XVI.
Existe outra fonte, todavia, que é Zaratustra. Ele dizia: Ahura Mazdah não possui imagem corpórea, é onipresente e onisciente, abstrato, eterno e, bem longe das paixões humanas, encarna um princípio facilmente identificável: o bem. A este único Deus, porém, se opõe um antagonista com o nome de Angra Mainyu, o “espírito do mal” que através das tentações deseja tirar os homens do caminho da fé e do bem. Cada um dos dois lados possui auxiliares que são as forças do bem e do mal: espíritos bons e demônios do mal. Aqui temos a origem dos espíritos bons, que as doutrinas cristãs chamam “Espírito Santo” e os espíritos maus, “que a bíblia chama demônios”.
Não interrompendo o dialogo com os mortos, porque a vida não está limitada pelos horizontes do mundo, implica entender que há espíritos bons e maus. Os bons, provavelmente são os que, enquanto encarnados, praticavam boas obras... A não ser que se tenham revoltado por não terem sido erguidos ao paraíso - é o caso dos religiosos. E os maus, os assassinos, trapaceadores, ladrões, estupradores etc.etc., porque já deste lado do mundo em momento algum se preocupavam com a dor que causavam ao próximo.
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