domingo, 28 de agosto de 2011

Capítulo 4- A VIDA PERPASSANDO A MATÉRIA

A vida não é limitada pelo tempo que transcorre entre o berço e o tumulo, em outras palavras, pelo limite imposto pelo decesso do corpo tangível, aquele que antes de ser confiado ao tumulo podia ser visto e tocado, só porque alguns afirmam que é isso que acontece. A história, escrita pela tinta indelével dos séculos, demonstra sobejamente que o homem, na medida em que contestou os paradigmas e perseverou em sua busca além dos padrões até então aceitos como incontestáveis, sempre transformou verdades em solenes mentiras.
Ouvindo do papa que não se deve interromper o diálogo com os mortos, conclui-se que também ele, estendendo sua busca além do paradigma bíblico, entendeu que os que se vão continuam ouvindo mesmo depois de passarem pela soleira do sepulcro. Então, quem escuta o dialogo que ele disse que deve ser mantido? Os restos mortais em processo de decomposição ou a alma, em outras palavras, o espírito que neles habitava e que, mesmo não sendo mais visível, permanece ao lado daqueles que lhe são caros.
Mas porque não é mais visível? Porque seu corpo, despido da matéria densa que o revestia, é fluídico, portanto, não mais perceptível aos olhos, mas unicamente à sensibilidade das mentes mais desenvolvidas.
Para definir, com algum sucesso, como é o corpo espiritual é preciso considerar, antes de qualquer coisa, que ele não é reflexo do corpo físico, porque, na realidade, é o corpo físico que o reflete, tanto quanto ele próprio, o corpo espiritual, retrata em si o corpo mental que lhe preside a formação.
Do ponto de vista da constituição e função em que se caracteriza na esfera imediata após a morte, é o corpo espiritual o veículo físico, com sua estrutura eletromagnética, algo modificado no que tange aos fenômenos genésicos e nutritivos, de acordo, porem, com as aquisições da mente que o maneja.
Todas as alterações que apresenta - depois do estagio berço-tumulo - verificam-se na base da conduta espiritual de quem se despediu do arcabouço terrestre para continuar a jornada no mundo invisível com o fim de se enriquecer, se o deseja, com as experiências que ele patrocina.
Claro está, portanto, que é ele santuário vivo em que a consciência imortal prossegue em manifestação incessante, além do sepulcro, com sua configuração corpórea urdida em energia sutil, dinâmica, extremamente porosa e plástica, em cuja tessitura as células - em outra faixa vibratória - diante do sistema de permuta visceralmente renovado, se distribuem mais ou menos à feição das partículas colóides, com a respectiva carga elétrica, comportando-se segundo sua condição especifica e apresentando estados morfológicos conforme o campo mental a que se ajusta.
A forma individual obedece sempre ao reflexo que emana da sua mente, notadamente no que diz respeito ao sexo, porque a criatura se mantém com os distintivos psicossomáticos de homem ou mulher que ao longo do tempo lhe marcaram a vida intima.
Se seu progresso mental não é positivamente acentuado, permanece nos planos inferiores por tempo indefinível com o visual que lhe foi próprio enquanto na carne. Assim, se o ser passou pela porta tumular na condição de ancião, talvez leve séculos para se desfazer dos sinais da ancianidade corpórea, bem como das marcas de sofrimento e dor moldadas pelas doenças sofridas se deseja remoçar o próprio aspecto. Por conseguinte, se transpôs a mesma porta ainda jovem, igualmente terá aguardar que o tempo o auxilie caso queira auferir os traços fisionômicos de pessoa madura.
O corpo espiritual, ou psicossoma, é o veiculo relativamente definido pela ciência humana, com os centros vitais que essa mesma ciência, por enquanto, não pode perquirir e reconhecer. Nele existem todos os equipamentos de recursos automáticos que governam os bilhões de entidades microscópicas a serviço da inteligência, nos círculos da ação em que se demora, recursos estes adquiridos vagarosamente pelo ser, em milênios e milênios de esforço e recapitulação nos múltiplos setores da vida anímica.
É assim que, regendo a atividade funcional dos órgãos relacionados pela fisiologia terrena, nele identifica-se:
O “centro coronário” instalado na região central do cérebro, sede do corpo mental, centro que assimila os estímulos do Plano Superior e orienta a forma, o movimento, a estabilidade, o metabolismo orgânico e a vida consciencial da alma, encarnada ou desencarnada, nas cintas do aprendizado que lhe corresponde no abrigo planetário.
Este centro supervisiona, ainda, os outros centros vitais que lhe obedecem ao impulso, procedentes da mente, assim como as peças secundarias de uma usina respondem ao comando da peça-motor de que se serve o tirocínio do homem para concatená-las e dirigi-las.
Neste centro, particularmente, existe o ponto de interação entre as forças determinantes da mente e as forças fisiopsicosomaticas organizadas. Dele parte, desse modo, a corrente de energia vitalizante formada por estímulos espirituais com ação difusível sobre a matéria mental que o envolve, transmitindo aos demais centros os reflexos vivos dos nossos sentimentos, idéias e ações, tanto quanto estes mesmos centros, interdependentes entre si, imprimem semelhante reflexos nos órgãos e demais implementos de nossa constituição particular, plasmando em nos próprios os efeitos agradáveis ou desagradáveis de nossa influencia e conduta.
A mente altera seus “estados mentais” em função das ocorrências ou elementos que se explanam ao seu redor, fazendo fluir de si mesma vibrações distintas diante de cada cenário acrescentando-lhe, porém, as concepções intelectivas que lhe dimanam de si mesma, cabendo ao centro coronário incumbir-se, automaticamente, de fixar a natureza da responsabilidade que lhes diga a respeito marcando-a no próprio ser.
Desses centros secundários, entrelaçados como uma rede no corpo espiritual ou psicossoma, e por redundância no corpo físico, por redes plexiformes, destacamos:
  • O centro cerebral, contíguo ao coronário, com influência decisiva sobre os demais, governando o córtice encefálico na sustentação dos sentidos, marcando a atividade das glândulas endócrinas e administrando o sistema nervoso em toda a sua organização, coordenação, atividade e mecanismo, desde os neurônios sensitivos até as células efetoras.
  • O centro laríngeo, controlando notadamente a respiração e a fonação, além do quadrinômio olhos, ouvidos, nariz e garganta.
  • O centro cardíaco, dirigindo a emotividade e a circulação das forças de base.
  • O centro esplênico, determinando todas as atividades em que se exprime o sistema hemático, dentro das variações de meio e volume sanguíneo.
  • O centro gástrico, responsabilizando-se pela digestão e absorção dos alimentos densos ou menos densos que, de qualquer modo, representam concentrados fluídicos penetrando-nos a organização.
  • O centro básico, coordenando o desenvolvimento e a manutenção da massa corpórea, mais especificadamente todos tecidos: ossos, músculos, cartilagens, pele etc.
  • O centro genésico, guiando a modelagem de novas formas entre os homens ou o estabelecimento de símbolos criadores, com vista ao trabalho, à associação e à realização entre as almas.  
Estes centros vitais são os fulcros energéticos que, sob a direção exclusiva da mente, imprimem ás células à especialização extrema que o homem possui nas varias províncias do corpo espiritual, que detém em recursos equivalentes no corpo físico, as células que produzem fosfato e carbonato de cálcio para a construção dos ossos, as que se distendem para a cobertura do intestino, as que desempenham complexas funções químicas no fígado, as que se transformam em filtros de sangue na intimidade dos rins e outras tantas que se ocupam do fabrico de substancias indispensáveis à conservação e defesa da vida nas glândulas, nos tecidos e nos órgãos que nos constituem o cosmo vivo de manifestação.
Estas células, que obedecem às ordens da mente espiritual, diferenciando-se e adaptando-se às condições por ela criadas, procedem do elemento primitivo comum, de onde todos provimos em laboriosa marcha no decurso dos milênios, desde o seio tépido do oceano quando as formações protoplásmicas  nos lastrearam as primeiras manifestações de vida.
Tanto quanto à célula individual, a personalizar-se na ameba, ser unicelular que reclama ambiente próprio e nutrição adequada para crescer e reproduzir-se, garantindo a sobrevivência da espécie no oceano em que respira, os bilhões de células que nos servem ao veículo físico,  domesticadas, agora, na sua quase totalidade em funções exclusivas, necessitam de substancias especiais como água, oxigênio e canais de exoneração excretória para se multiplicarem no trabalho específico que nosso espírito lhe traça, desde que encontrem, porém, esse clima que lhe é indispensável na estrutura aquosa de nossa constituição fisiopsicossomatica, a expressar-se nos líquidos extracelulares, formados pelo liquido intersticial e pelo plasma sangüíneo.
Observando, desse modo, o corpo espiritual ou psicossoma como veículo eletromagnético, qual o próprio corpo físico vulgar, reconhercer-se-à facilmente que, como acontece na exteriorização da sensibilidade dos encarnados, operada pelos magnetizadores comuns, os centros vitais a que nos referimos são também exteriorizáveis quando a criatura se encontre no campo da encarnação, fenômeno esse a que atendem habitualmente os médicos e enfermeiros desencarnados, durante o sono, no auxílio a doentes físicos de todas as latitudes da Terra, plasmando renovações e transformações no comportamento celular, mediante intervenções no corpo espiritual segundo a lei do merecimento, recursos esses que se popularizarão na medicina terrestre do distante futuro.
Resumindo, o psicossoma é ainda o corpo de duração variável, segundo o equilíbrio emotivo e o avanço cultural daquele que o governa, além do carro fisiológico, apresentando algumas transformações fundamentais depois da morte carnal, principalmente no centro gástrico, pela diferenciação dos alimentos de que se provê, e no centro genésico, quando há sublimação do amor, na comunhão das almas que se reúnem no matrimonio divino das próprias forças, gerando novas formulas de aperfeiçoamento e progresso para o reino do espírito.
Esse corpo que evolui e se aprimora nas experiências de ação e reação, no plano terrestre e nas regiões espirituais que lhe são fronteiriças, é suscetível de sofrer alterações múltiplas com alicerces na dinâmica proveniente da queda mental ou remorso, ou na hiperdinâmica imposta pelos delírios da imaginação, a se responsabilizarem por disfunções inúmeras da alma, nascidas do estado de hipertensão no movimento circulatório das forças que lhe mantém o organismo sutil, podendo-se também se desgastar na esfera imediata a dá esfera física, para nela se refazer, através do nascimento, segundo o molde mental preexistente, ou, ainda, restringir-se a fim de se reconstituir de novo, no vaso uterino, para a recapitulação dos ensinamentos e experiências de que se mostre necessitado de acordo com as falhas da consciência diante da lei maior.

sábado, 27 de agosto de 2011

Capítulo 3- A IGREJA E A PRÉ EXISTÊNCIA DA ALMA

Contrariando a essência das doutrinas orientais, a maioria das religiões ocidentais que se intitulam cristãs, tenham elas suas raízes no cristianismo moldado por Constantino ou nascidas das discordâncias que pautaram a sua estrada, negam a  pré-existência da alma porque um versículo do novo testamento diz:
  • Epístola aos Hebreus 9:27.”Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo final”
Entretanto, o que é dito nos seguintes versículos contraria frontalmente a Epistola aos Hebreus, porque segundo Mateus, Jesus disse aos apóstolos que João Batista era a reencarnação do profeta Elias:
  • Mateus 11:13-15. Porque os profetas e a lei tiveram a palavra até João. E, se quereis compreender, é ele o Elias que devia voltar. Quem tem ouvido que me ouça.
  • Mateus 17:12-13. Mas eu vos digo que Elias já veio, mas não o conheceram; antes, fizeram com ele quanto quiseram. Do mesmo modo farão sofrer o Filho do homem. Os discípulos compreenderam, então, que ele lhes falava de João Batista.
Ao longo dos primeiros séculos da nossa era, entretanto, devido à simbiose entre as religiões pagãs e o cristianismo nascente, a reencarnação era um dos componentes da teologia deste ultimo, porque os pais da igreja cristã - entre eles Orígenes de Alexandria, através dos seus textos afirmavam que a reencarnação fazia parte do pensamento cristão.
Foi no segundo século da era cristã que Orígenes de Alexandria, teólogo e exegeta - aquele que se dedica à interpretação, explicação e comentários gramaticais, históricos e jurídicos da Bíblia, escreveu na sua obra “sui principi”, obra esta que na oportunidade fazia parte dos livros canônicos, que algumas pessoas, devido a sua inclinação ao mal e a associação a paixões irracionais, depois de morrerem, vencido o período de permanência na forma humana, renasciam como animais até pagarem seus débitos.
Orígenes foi considerado um dos mais ilustres estudiosos da Bíblia, da Igreja, e das suas origens. Participou na elaboração do novo testamento, foi um prolífico autor de epistolas, tratados de teologia dogmática e pratica, alem de apologias e obras exegéticas famosas como a “Esapla”, uma das primeiras edições Bíblicas comparadas. As suas afirmações, relativas à preexistência da alma, e todas as teorias que se desenvolveram a partir daquele pensamento, foram matéria de importantes controvérsias na igreja da idade média. Porem, como as leis da igreja continuavam sendo alteradas pelos imperadores - antes que esta estratégia passasse à esfera papal – porque utilizavam a religião para se fortalecerem politicamente, mais uma vez no ano 553 isso se repetiu. Naquele ano, o Imperador Giustiniano I, utilizando o quinto Concílio Ecumênico, o segundo de Constantinopla - nome dado por Constantino I à antiga Bizâncio quando passou a ser a sede do império do ocidente, submetendo-se mais uma vez aos desejos capciosos de sua esposa, a imperatriz Teodora, ordenou a prisão do Papa Silvério  que havia sido eleito em Roma um ano antes, e nomeou para substituí-lo Virgilio, o núncio apostólico daquela cidade depois que este prometera ajudar a imperatriz a destruir a crença da reencarnação.
A respeito de Teodora sabe-se que era filha de um tratador de ursos do hipódromo e que tivera uma juventude desregrada, escandalizando a cidade com suas aventuras de atriz e dançarina. Não se sabe exatamente como Justiniano a conheceu. Seu matrimônio com a antiga bailarina de circo e prostituta teve grande importância uma vez que ela iria influenciar decisivamente em algumas questões políticas e religiosas. Ela, que não tolerava concorrência quando decidia seduzir um homem, sem nenhum escrúpulo mandava assassinar as mulheres que lhe atravessavam o caminho. Quando soube que as almas reencarnavam, ficou preocupada com a possibilidade da reencarnação daquelas que havia mandado executar, entendendo que poderiam voltar para se vingar. O que fazer, então? Acreditando que como imperadora podia extirpar o “mal” em sua raiz, decidiu que a reencarnação devia ser eliminada da teologia cristã.
Virgilio, o novo Pontífice, para cumprir a sua parte no acordo, não participou do quinto concilio, e sem a sua presença os 160 religiosos presentes não tiveram como defender a continuidade da tese da preexistência da alma diante da pressão do imperador para eliminá-la. Foi assim que o imperador Justiniano I se viu livre para proclamar livremente seu anátema contra Orígenes de Alexandria. Não só o excomungou, como afirmou que se alguém viesse a afiançar novamente que a alma transmigra de um corpo para o outro, seria maldito.
A partir do “consenso” daquele Concilio, falar em reencarnação passou a ser sinônimo de heresia e este posicionamento pós-fim a qualquer outra discussão séria a respeito da transmigração da alma. Tornando-se um dogma, uma decisão tomada, tida como certa, e conseqüentemente indiscutível”, passou a ser um assunto proibido não só no âmbito eclesiástico, mas também por todos os católicos.
Esse dogma, ao longo dos anos, passou a ser absorvido por todas as religiões que, cada uma ao seu modo, pregam o cristianismo.

Capítulo 2- LIDANDO COM OS ESPÍRITOS MALÍGNOS

Em 1973 o filme “O Exorcista” causou impacto ao narrar o embate entre um sacerdote católico e o demônio encarnado numa garotinha. Se a fita fosse refeita hoje o ritual executado teria mudanças significativas. A mais importante delas é que o sacerdote poria ênfase nos rogos para que o “Espírito Santo” descesse sobre o corpo e a mente da vitima.
O novo rito prevê a esconjuração de demônio, mas como um recurso secundário, ao contrario do que acontecia na formula anterior datada do século XVII. Essa nova receita é prescrita pelo livro “Ritual de Exorcismo e Outras Súplicas” (Paulus; 96 paginas; 28 reais).
Lançada na Itália em 1998 e agora no Brasil, depois de um processo de tradução que se estendeu por sete anos, à obra estabelece como os sacerdotes católicos devem proceder em caso de possessão demoníaca. Resultado da renovação dos rituais católicos iniciados nos anos 60 com o Concilio Vaticano II, o manual não propõe somente a mudança de uma liturgia que, a própria igreja afirma, quase nunca é realizada. Ele reflete uma nova maneira de falar sobre o “mal” aos fieis, numa resposta católica a religiões rivais.
Marcas da nova filosofia da igreja a respeito do exorcismo são a cautela e o ceticismo em relação aos episódios de possessão.
Segundo o novo manual católico os principais indicativos de que uma pessoa foi possuída pelo tinhoso seriam falar línguas com as quais ela nunca teve contato, manifestar conhecimentos sobre lugares e saberes estranhos e apresentar uma força descomunal para seu porte. Ainda assim, o exorcismo só será considerado como hipótese depois que a pessoa passar pelo exame de psicólogos e outros especialistas. É como se a igreja propusesse uma santa aliança com as ciências medicas.
A desconfiança em relação aos casos de possessão não significa que a igreja tenha relegado a um papel secundário o combate ao demônio e o ritual de exorcismo. Admitir que o mal existe e que deve ser combatido significa também reconhecer o poder maior de Deus. Na bíblia há menção aos embates com espíritos malignos e o primeiro exorcista foi ninguém menos do que Jesus Cristo.
  • Marcos cap. 9:20 - Eles lho trouxeram. Assim que o menino avistou Jesus, o espírito o agitou fortemente. Caiu por terra e revolvia-se espumando. Jesus perguntou ao pai: Há quanto tempo lhe acontece isso? Desde a infância, respondeu-lhe. E o tem lançado muitas vezes ao fogo e a água, para o matar. Se tu, porém, podes alguma coisa, ajuda-nos, compadece-te de nós! Disse-lhe Jesus: Tudo é possível ao que crê. Imediatamente exclamou o pai do menino: Creio! Vem em socorro a minha falta de fé! Vendo Jesus que o povo afluía, intimou o espírito imundo e disse-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai deste menino e não tornes a entrar nele.
  • Atos dos apóstolos cap. 16: 16-18 - Certo dia, quando íamos à oração, eis que nos veio ao encontro uma moça escrava que tinha o espírito de Pitão, - Pitão designa espírito divinatório - a qual com as suas adivinhações dava muito lucro a seus senhores. Pondo-se a seguir a Paulo e a nos, gritava: Estes homens são servos de Deus Altíssimo, que vos anunciam o caminho da salvação. Repetiu isso por muitos dias. Por fim, Paulo enfadou-se. Voltou-se para ela e disse ao espírito: Ordeno-te em nome de Jesus Cristo que saias dela. E na mesma hora ele saiu.
  • Mateus cap. 12:43- 45 - Quando o espírito impuro sai de um homem, éi-lo errante por lugares áridos à procura de um repouso que não acha. Diz ele, então: Voltarei para a casa donde sai. E, voltando, encontra-a vazia, limpa e enfeitada. Vai, então, buscar sete outros espíritos piores de que ele, e entram nessa casa e se estabelecem ai; e o ultimo estado daquele homem, torna-se pior do primeiro.
  • Lucas cap. 4: 33-36 - Estava na sinagoga um homem que tinha um demônio imundo, e exclamou em alta voz: Deixa-nos! Que temos nós contigo, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei quem és: o Santo de Deus! Mas Jesus replicou severamente: Cala-te e sai deste homem. O demônio lançou-o por terra no meio de todos e saiu dele, sem lhe fazer mal algum.
  • Atos dos apóstolos cap.19:15-16 - Mas o espírito maligno replicou-lhes: Conheço Jesus e sei quem é Paulo. Mas vós, quem sois? Nisto o homem possuído do espírito maligno, saltando sobre eles, apoderou-se de dois deles e subjugou-os de tal maneira, que tiveram que fugir daquela casa feridos e com as roupas estraçalhadas... }

Em sua nova doutrina sobre o assunto a igreja afirma que o demônio não é somente uma abstração filosófica, mas uma entidade que existe de fato e está em constante luta contra os desígnios divinos - ainda que só se manifeste como possessão em casos raríssimos. Interessa-lhe, contudo, contrapor-se ao que considera uma tendência de “satanização do cotidiano”.
Outra faceta da “satanização do cotidiano” contra a qual a igreja católica tenta se opor é a crença de que qualquer vicissitude pessoal é resultado da ação do demônio – e a conseqüente busca de amparo ou salvação nos templos.
Nas missas do movimento carismático, no interior do próprio catolicismo, há o chamado exorcismo devocional – momento em que se fazem orações contra as forças maléficas. Denunciar a ação do diabo é também uma parte importante do culto das igrejas evangélicas, nas quais o exorcismo é praticado de maneira ostensiva e na base do ”Xô, Capeta!” – ou seja, com os xingamentos contra o diabo e a linguagem colorida que o catolicismo também permitia usar, e que foi banida pelo novo rito. “Muita gente procura esses cultos porque atribui problemas pessoais ao diabo”. As pessoas terceirizam o “mal”, diz o teólogo Marcio Fabri.
A igreja católica considera o exorcismo uma espécie de ciência. O padre que o realiza precisa ter atributos especiais. Somente um sacerdote que se destaque pela “piedade, ciência, prudência e integridade de vida” pode realizá-lo – e com autorização expressa do bispo a quem responde. Em fevereiro, uma academia do Vaticano foi palco do primeiro curso oficial sobre exorcismo. Promovida pelos legionários de Cristo, uma agremiação ultraconservadora, a serie de conferencias foi acompanhada por mais de 100 padres e seminaristas. Nenhum sacerdote brasileiro fez o curso.
É como mínimo curioso o dualismo do Vaticano porque para fazer constar no novo manual os principais indicativos de que uma pessoa foi possuída pelo tinhoso, quer dizer, falar línguas que ela nunca jamais conheceu, teve que “olvidar” as ocorrências relatadas na Bíblia relativas ao dia de Pentecoste
Atos dos Apóstolos 2:1-4. “Chegado o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de língua de fogo, que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhe concedia que falassem”.

Além disso, os cultos católicos carismáticos iniciam com orações diante do altar para preparar os fiéis para o que acreditam ser uma celebração para receber os dons do Espírito Santo, em outras palavras, orar em línguas estranhas. “Esse tipo de exaltação na fala permite,segundo eles, ficar horas louvando e exaltando a Deus. É uma linguagem que não tem tradução, não tem interpretação. A pessoa não pensa, não articula, não se trata de linguagem identificável. Essa é a oração em línguas”, explicam os responsáveis pelo Comitê Internacional da Renovação Carismática. 
Alias, diga-se de passagem, nas igrejas pentecostais - a Assembléia de Deus Betésda por exemplo, este “fenômeno” se repete de continuo.
A igreja católica - e as demais que lhe seguem os passos - permanecem afirmando que o demônio não é somente uma abstração filosófica, mas uma entidade que existe de fato e está em constante luta contra os desígnios divinos. Acredita tanto nisso que para combatê-lo, em fevereiro de 2005, promoveu no Vaticano o primeiro curso oficial sobre exorcismo. Uma situação como mínimo engraçada se considerarmos que ela já derrubou, através do próprio papa Karol Wojjtyla, outros dogmas bíblicos que até o fim do período de seu antecessor, João Paulo XXIII, por serem dogmas, eram indiscutíveis.
Em 1978, portanto no seu primeiro ano de pontificado, João Paulo II, ao redimir Galileu Galilei e Copérnico que haviam demonstrado que a terra não era o centro do universo, destruiu este dogma da cosmologia cristã, e a redimir Charles Darwin, como também fez, acabou com o dogma bíblico de Adão e Eva porque ele, com a sua teoria da evolução, foi o primeiro a afirmar que o homem descende do macaco.
Se não aboliu o batismo, agora difícil de sustentar porque seu escopo era redimir os filhos de Adão e Eva da culpa por eles cometida - o pecado original - por outro lado, ao afirmar, em novembro de 1983 na Basílica de São Pedro, que o dialogo com os mortos não deve ser interrompido porque na realidade a vida não está limitada pelos horizontes do mundo, reconheceu, utilizando meias palavras, que a vida continua depois da morte.
Enquanto isso as igrejas evangélicas neopentecostais, que ao seu modo também fincaram suas raízes na bíblia, continuam praticando o exorcismo na base do ”Xô, capeta”, atribuindo a ele, e não ao homem, a culpa de todos os males da humanidade, incluindo as doenças.
Vamos lembrar, agora, quem foi que pela primeira vez inseriu o demônio e os espíritos malignos no cenário religioso.  
Zaratustra rejeitou a fé dos seus pais que reconhecia um grande número de ahura, as divindades da luz, e dos daeya, os demônios. Afirmava que uma só daquelas divindades era verdadeira por ser o Deus único: Ahura Mazdah, o sábio senhor.
O seu Ahura Mazdah não possue imagem corpórea, é onipresente e onisciente, abstrato, eterno e, bem longe das paixões humanas, encarna um princípio facilmente identificável: o bem.
A este único Deus, porém, se opõe um antagonista com o nome de Angra Mainyu, o “espírito do mal” que através das tentações deseja tirar os homens do caminho da fé e do bem. Cada um dos dois lados possue auxiliares que são as forças do bem e do mal: espíritos bons e demônios do mal.
Aqui temos a origem dos espíritos bons, que as doutrinas cristãs chamam “Espírito Santo” e os demônios, os espíritos malignos retratados na Bíblia.
Zaratustra deve ter sido influenciado por outros, mas quem? Nenhum povo, no seu tempo, a exceção dos hebreus, aceitava ou acreditava em um Deus único para todos os homens.
Um povo, entretanto, já estava dando os primeiros passos nesta direção: os Indianos arii. Os Indianos haviam iniciado um século antes de Zaratustra a desenvolver na parte filosófica do seu “Veda”, a assim chamada Upanisad (doutrina secreta), uma nova forma de religião. Muitos entres os seus significativos pensadores, presumiam que atrás da complicada multiplicidade de deuses, existia uma força primária, uma alma universal, criadora de tudo o que era chamado brahman.
Os historiadores religiosos entendem que não deveria ter sido difícil para ele traduzir a língua sagrada dos hindus Arii, o sânscrito, que era parecido ao dialeto falado em Battria. Eles lembram que naquele tempo devia haver vários contatos entre os sacerdotes arii do Iran oriental, com os da Índia setentrional. Zaratustra poderia assim ter desenvolvido depois, e de forma radical, aquilo que os eruditos Hindus só puderam fazer germinar.
Hoje, a maioria dos estudiosos das religiões são unânimes em apontar que foi Zaratustra o primeiro profeta a anunciar a existência de satanás. O primeiro a considerar o mundo terreno como o campo aonde deveria se defrontar o bem e o mal, e, além disso, ninguém antes dele chamou os homens para fazer uma escolha livre entre estas duas forças absolutas.
Zaratustra foi o primeiro a intuir a engrenagem de todas as coisas, a tradução daquilo que os indianos arii e os iranianos entendiam e distinguiam entre o bem e o mal, subdividindo desta forma o universo em dois mundos contrapostos.
Foi ele que fixou linhas precisas em uma ordem ainda vaga. Foi ele o primeiro a afirmar a ressurreição dos mortos no dia do juízo universal, aonde o homem, diante de Deus, deve responder pelas suas boas ou más ações.
Antes de Zaratustra ninguém tinha afirmado a existência do chamado além, do paraíso para os bons e o inferno para os maus.
Só no livro dos mortos, como foi chamado o “Evangelho de Osíris”, fala-se das atitudes que permitem ao homem alcançar a vida eterna depois da morte. A vida eterna, afirma este livro, só pode ser conseguida se o defunto viveu uma vida pura e bondosa ao longo do período em que permaneceu na terra. Os espíritos julgados bons, no após morte, são levados até Osíris no céu pela vida eterna, enquanto que os outros vão de encontro à perdição.
Aquilo que o mundo acreditava que pertencesse ao patrimônio inventivo dos hebreus, não foi idealizado através de aparições nos desertos da Judéia ou às margens do rio Jordão, mas nas montanhas e nas estepes do Alfaniganistão, além das margens do Amu Darja.


Capítulo 1- ALEM DO HORIZONTE DO MUNDO

“O dialogo com os mortos não deve ser interrompido, pois, na realidade, a vida não está limitada pelos horizontes do mundo”. Pregação do Papa João Paulo II na Basílica de São Pedro em novembro de 1983.
O papa João Paulo II ao fazer esta declaração, com certeza, deixou muitos cristãos boquiabertos, porque de certa forma contrariou frontalmente o que a sua igreja até então afirmava: o sono eternal até o dia do juízo final.
Entretanto, por não ser possível atribuir a estas palavras meio significado, porque jamais o papa entraria nesta seara irresponsavelmente, mister se faz entender que na igreja católica apostólica romana, sob o papado de João Paulo II, estavam em curso profundas mudanças. Mesmo porque João Paulo II havia declarado - quando tornou publico o terceiro segredo de Fátima, que visões como a que tiveram as três crianças portuguesas são freqüentes, mas como nem sempre são confiáveis, deve-se estar preparados para escolher entre elas só as confiáveis porque há inúmeras más.
Para uma analise um pouco mais profunda a respeito destas considerações recorreremos ao livro “Il Pensiero Debole” (o pensamento fraco) que o professor de filosofia Gianni Vàttimo escreveu em 1983. Nele, Vàttimo discorre a respeito da fraqueza do pensamento porque, mesmo se não é mais possível falar do “ser” ou da “substancia”, bem como dos “fundamentos” das “certezas” ou das “verdades”, persiste possível pensar, refletir e filosofar.
Este tipo de pensamento tem demonstrado que aos poucos influencia também a teologia que é o estudo da fé em Deus, permitindo, assim, entrever outros caminhos de reflexão entre os cultivados pela doutrina metafísica, em outras palavras, os que haviam sido propostos por São Thomaz de Aquino, um plagio dos ajuizamentos do grego Aristóteles.
Estes novos caminhos que estão se delineando, aparentemente, não somente são mais fieis à bíblia, mas também mais humanos. Trata-se, porem, de caminhos ainda em fase de exploração. Nestes percursos, entretanto, tem uma importância capital o estudo da língua, o estudo da psicologia e o confronto histórico com as culturas dos vários povos do mundo.     
Atualmente é possível ter uma melhor compreensão a respeito do motivo pelo qual muitas pessoas - mesmo de perspectivas diversas, se sentem freqüentemente desorientadas porque não conseguem mais ter uma noção exata para diferenciar os caminhos comuns dos que a luz dos conhecimentos de hoje é permissível refletir.
Destarte pode parecer surpreendente o que o Código de Direito Canônico (o compendio atualizado das leis da igreja católica) publicado em Roma no dia 25 de janeiro de 1983, no parágrafo 3 da lei 252, que diz respeito à instrução a ser dada aos seminaristas, explicite: ”alumni mysteria salutis, S. Thoma praesertim magistro, intimius penetrare addiscant(os alunos aprendam a penetrar mais profundamente os mistérios da salvação, nomeando seu mestre sobretudo São Thomaz de Aquino).
A posição da igreja institucional, todavia, pode ser compreensível. Ela procura se manter, pelo menos por enquanto, ancorada nas tradições que julga mais claras e seguras mesmo se decrépitas, enquanto os novos caminhos não se demonstrarem suficientemente claros e seguros para poderem ser seguidos com a mesma tranqüilidade.
Mesmo o pensamento de são Thomé de Aquino, no seu tempo, encontrou oposição por parte da igreja, até que se demonstrou claro e confiável.
Os últimos desenvolvimentos da filosofia, exatamente porque são os últimos, ainda não foram difundidos porque seu aprofundamento, e conseqüentes esclarecimentos, não foram suficientes para torná-los aceitáveis com serenidade também por parte da igreja.
É necessário não esquecer que a igreja católica não é só o reflexo do que está escrito nos documentos, mas é um gigantesco organismo articulado e complexo, onde, se por um lado existe a pesquisa e a experimentação, do outro existem os contrastes e conflitos que são gerados pelas idéias e pelas escolhas.
Fazendo-se uma rápida síntese pode-se afirmar que nesta igreja existem como mínimo duas correntes, a dos conservadores e tradicionalistas, temerosos que uma abertura para a filosofia não metafísica provoque um desorientação destrutiva, e dos progressistas que enxergam com mais otimismo a possibilidade de se iniciarem novos caminhos. Mas nem sempre estes últimos conseguem esclarecer, com um discurso simples, onde pretendem chegar. Esta é a igreja.
Mas o que será que animou o papa a dizer que o dialogo com os mortos não deve ser interrompido, pois, na realidade, a vida não está limitada pelos horizontes do mundo? Será que estava se reportando à pré-existência da alma, defendida pelo exegeta Orígenes de Alexandria até ser excomungado, em 533 d.C., pelo imperador Justiniano I? Ou aos livros sagrados do hinduísmo, os Vedas, que séculos antes da vinda de Cristo já afirmavam que a morte é a separação do corpo sutil do corpo físico quando este desce ao tumulo, e que após abandonar o corpo de carne permanece no mesmo cenário em que vivem aqueles que ama para só tempos depois iniciar uma longa jornada no plano espiritual?
Poderia também se reportar a Platão porque este grego comparava à alma a uma “biga” puxada por dois cavalos alados, três elementos em permanente conflito. Na existência anterior ao último nascimento, dizia este filosofo, as almas dos homens estavam com as dos deuses no céu, portanto, com a probabilidade de progredir para níveis superiores, uma realidade além do mundo físico que segundo ele subdividia-se em dois níveis reais: o nosso mundo e o das idéias?
Ou ainda aos egípcios que consideravam que a natureza humana era composta de três elementos: corpo, vida e espírito. Ahk era o corpo - caracterizado como princípio mortal, kha o espírito ou alma - que era caracterizada como energia vital, a força que mantém a vida, e Kha a essência que continuava viva depois da morte do corpo?
Poderia se referir a Kardec? Não, porque ele não inventou o espiritismo, só o codificou. A alma só abrolhou neste planeta depois que as forças do invisível, sob a orientação do Cristo, estabeleceram a linhagem definitiva para todas as espécies. Foi no “Homo Neanderthal” que o espírito dos que foram exilados de Capela reencarnaram no orbe Terrestre.
Sim, muitos milênios antes do cristianismo nascer, os espíritos, entre uma encarnação e outras, já se manifestavam entre todos os povos da terra: da Índia ao Nepal, dos Egípcios aos Babilônios, dos Celtas aos Normandos e dos Gregos aos Romanos através de seus sacerdotes, enquanto que em todas as regiões habitadas por autóctones aconteciam às mesmas manifestações através dos pajés ou dos xamãs.
Entretanto, o que o papa João Paulo II tencionava dizer foi por ele levado para o “alem do horizonte do mundo”, e pelo andar da carruagem, mesmo se dentro do recinto do vaticano alguém sabe ao que ele se referia, com certeza não vai ser esclarecido sob o papado de Bento XVI.
Existe outra fonte, todavia, que é Zaratustra. Ele dizia: Ahura Mazdah não possui imagem corpórea, é onipresente e onisciente, abstrato, eterno e, bem longe das paixões humanas, encarna um princípio facilmente identificável: o bem. A este único Deus, porém, se opõe um antagonista com o nome de Angra Mainyu, o “espírito do mal” que através das tentações deseja tirar os homens do caminho da fé e do bem. Cada um dos dois lados possui auxiliares que são as forças do bem e do mal: espíritos bons e demônios do mal. Aqui temos a origem dos espíritos bons, que as doutrinas cristãs chamam “Espírito Santo” e os espíritos maus, “que a bíblia chama demônios”.
Não interrompendo o dialogo com os mortos, porque a vida não está limitada pelos horizontes do mundo, implica entender que há espíritos bons e maus. Os bons, provavelmente são os que, enquanto encarnados, praticavam boas obras... A não ser que se tenham revoltado por não terem sido erguidos ao paraíso - é o caso dos religiosos. E os maus, os assassinos, trapaceadores, ladrões, estupradores etc.etc., porque já deste lado do mundo em momento algum se preocupavam com a dor que causavam ao próximo.