A vida não é limitada pelo tempo que transcorre entre o berço e o tumulo, em outras palavras, pelo limite imposto pelo decesso do corpo tangível, aquele que antes de ser confiado ao tumulo podia ser visto e tocado, só porque alguns afirmam que é isso que acontece. A história, escrita pela tinta indelével dos séculos, demonstra sobejamente que o homem, na medida em que contestou os paradigmas e perseverou em sua busca além dos padrões até então aceitos como incontestáveis, sempre transformou verdades em solenes mentiras.
Ouvindo do papa que não se deve interromper o diálogo com os mortos, conclui-se que também ele, estendendo sua busca além do paradigma bíblico, entendeu que os que se vão continuam ouvindo mesmo depois de passarem pela soleira do sepulcro. Então, quem escuta o dialogo que ele disse que deve ser mantido? Os restos mortais em processo de decomposição ou a alma, em outras palavras, o espírito que neles habitava e que, mesmo não sendo mais visível, permanece ao lado daqueles que lhe são caros.
Mas porque não é mais visível? Porque seu corpo, despido da matéria densa que o revestia, é fluídico, portanto, não mais perceptível aos olhos, mas unicamente à sensibilidade das mentes mais desenvolvidas.
Para definir, com algum sucesso, como é o corpo espiritual é preciso considerar, antes de qualquer coisa, que ele não é reflexo do corpo físico, porque, na realidade, é o corpo físico que o reflete, tanto quanto ele próprio, o corpo espiritual, retrata em si o corpo mental que lhe preside a formação.
Do ponto de vista da constituição e função em que se caracteriza na esfera imediata após a morte, é o corpo espiritual o veículo físico, com sua estrutura eletromagnética, algo modificado no que tange aos fenômenos genésicos e nutritivos, de acordo, porem, com as aquisições da mente que o maneja.
Todas as alterações que apresenta - depois do estagio berço-tumulo - verificam-se na base da conduta espiritual de quem se despediu do arcabouço terrestre para continuar a jornada no mundo invisível com o fim de se enriquecer, se o deseja, com as experiências que ele patrocina.
Claro está, portanto, que é ele santuário vivo em que a consciência imortal prossegue em manifestação incessante, além do sepulcro, com sua configuração corpórea urdida em energia sutil, dinâmica, extremamente porosa e plástica, em cuja tessitura as células - em outra faixa vibratória - diante do sistema de permuta visceralmente renovado, se distribuem mais ou menos à feição das partículas colóides, com a respectiva carga elétrica, comportando-se segundo sua condição especifica e apresentando estados morfológicos conforme o campo mental a que se ajusta.
A forma individual obedece sempre ao reflexo que emana da sua mente, notadamente no que diz respeito ao sexo, porque a criatura se mantém com os distintivos psicossomáticos de homem ou mulher que ao longo do tempo lhe marcaram a vida intima.
Se seu progresso mental não é positivamente acentuado, permanece nos planos inferiores por tempo indefinível com o visual que lhe foi próprio enquanto na carne. Assim, se o ser passou pela porta tumular na condição de ancião, talvez leve séculos para se desfazer dos sinais da ancianidade corpórea, bem como das marcas de sofrimento e dor moldadas pelas doenças sofridas se deseja remoçar o próprio aspecto. Por conseguinte, se transpôs a mesma porta ainda jovem, igualmente terá aguardar que o tempo o auxilie caso queira auferir os traços fisionômicos de pessoa madura.
O corpo espiritual, ou psicossoma, é o veiculo relativamente definido pela ciência humana, com os centros vitais que essa mesma ciência, por enquanto, não pode perquirir e reconhecer. Nele existem todos os equipamentos de recursos automáticos que governam os bilhões de entidades microscópicas a serviço da inteligência, nos círculos da ação em que se demora, recursos estes adquiridos vagarosamente pelo ser, em milênios e milênios de esforço e recapitulação nos múltiplos setores da vida anímica.
É assim que, regendo a atividade funcional dos órgãos relacionados pela fisiologia terrena, nele identifica-se:
O “centro coronário” instalado na região central do cérebro, sede do corpo mental, centro que assimila os estímulos do Plano Superior e orienta a forma, o movimento, a estabilidade, o metabolismo orgânico e a vida consciencial da alma, encarnada ou desencarnada, nas cintas do aprendizado que lhe corresponde no abrigo planetário.
Este centro supervisiona, ainda, os outros centros vitais que lhe obedecem ao impulso, procedentes da mente, assim como as peças secundarias de uma usina respondem ao comando da peça-motor de que se serve o tirocínio do homem para concatená-las e dirigi-las.
Neste centro, particularmente, existe o ponto de interação entre as forças determinantes da mente e as forças fisiopsicosomaticas organizadas. Dele parte, desse modo, a corrente de energia vitalizante formada por estímulos espirituais com ação difusível sobre a matéria mental que o envolve, transmitindo aos demais centros os reflexos vivos dos nossos sentimentos, idéias e ações, tanto quanto estes mesmos centros, interdependentes entre si, imprimem semelhante reflexos nos órgãos e demais implementos de nossa constituição particular, plasmando em nos próprios os efeitos agradáveis ou desagradáveis de nossa influencia e conduta.
A mente altera seus “estados mentais” em função das ocorrências ou elementos que se explanam ao seu redor, fazendo fluir de si mesma vibrações distintas diante de cada cenário acrescentando-lhe, porém, as concepções intelectivas que lhe dimanam de si mesma, cabendo ao centro coronário incumbir-se, automaticamente, de fixar a natureza da responsabilidade que lhes diga a respeito marcando-a no próprio ser.
Desses centros secundários, entrelaçados como uma rede no corpo espiritual ou psicossoma, e por redundância no corpo físico, por redes plexiformes, destacamos:
- O centro cerebral, contíguo ao coronário, com influência decisiva sobre os demais, governando o córtice encefálico na sustentação dos sentidos, marcando a atividade das glândulas endócrinas e administrando o sistema nervoso em toda a sua organização, coordenação, atividade e mecanismo, desde os neurônios sensitivos até as células efetoras.
- O centro laríngeo, controlando notadamente a respiração e a fonação, além do quadrinômio olhos, ouvidos, nariz e garganta.
- O centro cardíaco, dirigindo a emotividade e a circulação das forças de base.
- O centro esplênico, determinando todas as atividades em que se exprime o sistema hemático, dentro das variações de meio e volume sanguíneo.
- O centro gástrico, responsabilizando-se pela digestão e absorção dos alimentos densos ou menos densos que, de qualquer modo, representam concentrados fluídicos penetrando-nos a organização.
- O centro básico, coordenando o desenvolvimento e a manutenção da massa corpórea, mais especificadamente todos tecidos: ossos, músculos, cartilagens, pele etc.
- O centro genésico, guiando a modelagem de novas formas entre os homens ou o estabelecimento de símbolos criadores, com vista ao trabalho, à associação e à realização entre as almas.
Estes centros vitais são os fulcros energéticos que, sob a direção exclusiva da mente, imprimem ás células à especialização extrema que o homem possui nas varias províncias do corpo espiritual, que detém em recursos equivalentes no corpo físico, as células que produzem fosfato e carbonato de cálcio para a construção dos ossos, as que se distendem para a cobertura do intestino, as que desempenham complexas funções químicas no fígado, as que se transformam em filtros de sangue na intimidade dos rins e outras tantas que se ocupam do fabrico de substancias indispensáveis à conservação e defesa da vida nas glândulas, nos tecidos e nos órgãos que nos constituem o cosmo vivo de manifestação.
Estas células, que obedecem às ordens da mente espiritual, diferenciando-se e adaptando-se às condições por ela criadas, procedem do elemento primitivo comum, de onde todos provimos em laboriosa marcha no decurso dos milênios, desde o seio tépido do oceano quando as formações protoplásmicas nos lastrearam as primeiras manifestações de vida.
Tanto quanto à célula individual, a personalizar-se na ameba, ser unicelular que reclama ambiente próprio e nutrição adequada para crescer e reproduzir-se, garantindo a sobrevivência da espécie no oceano em que respira, os bilhões de células que nos servem ao veículo físico, domesticadas, agora, na sua quase totalidade em funções exclusivas, necessitam de substancias especiais como água, oxigênio e canais de exoneração excretória para se multiplicarem no trabalho específico que nosso espírito lhe traça, desde que encontrem, porém, esse clima que lhe é indispensável na estrutura aquosa de nossa constituição fisiopsicossomatica, a expressar-se nos líquidos extracelulares, formados pelo liquido intersticial e pelo plasma sangüíneo.
Observando, desse modo, o corpo espiritual ou psicossoma como veículo eletromagnético, qual o próprio corpo físico vulgar, reconhercer-se-à facilmente que, como acontece na exteriorização da sensibilidade dos encarnados, operada pelos magnetizadores comuns, os centros vitais a que nos referimos são também exteriorizáveis quando a criatura se encontre no campo da encarnação, fenômeno esse a que atendem habitualmente os médicos e enfermeiros desencarnados, durante o sono, no auxílio a doentes físicos de todas as latitudes da Terra, plasmando renovações e transformações no comportamento celular, mediante intervenções no corpo espiritual segundo a lei do merecimento, recursos esses que se popularizarão na medicina terrestre do distante futuro.
Resumindo, o psicossoma é ainda o corpo de duração variável, segundo o equilíbrio emotivo e o avanço cultural daquele que o governa, além do carro fisiológico, apresentando algumas transformações fundamentais depois da morte carnal, principalmente no centro gástrico, pela diferenciação dos alimentos de que se provê, e no centro genésico, quando há sublimação do amor, na comunhão das almas que se reúnem no matrimonio divino das próprias forças, gerando novas formulas de aperfeiçoamento e progresso para o reino do espírito.
Esse corpo que evolui e se aprimora nas experiências de ação e reação, no plano terrestre e nas regiões espirituais que lhe são fronteiriças, é suscetível de sofrer alterações múltiplas com alicerces na dinâmica proveniente da queda mental ou remorso, ou na hiperdinâmica imposta pelos delírios da imaginação, a se responsabilizarem por disfunções inúmeras da alma, nascidas do estado de hipertensão no movimento circulatório das forças que lhe mantém o organismo sutil, podendo-se também se desgastar na esfera imediata a dá esfera física, para nela se refazer, através do nascimento, segundo o molde mental preexistente, ou, ainda, restringir-se a fim de se reconstituir de novo, no vaso uterino, para a recapitulação dos ensinamentos e experiências de que se mostre necessitado de acordo com as falhas da consciência diante da lei maior.